elegia fúnebre


Artigo da VISÃO online. Comovente carta aberta em agradecimento ao grande camarada que se vai embora. Do Governo. Quem sabe se não mesmo do País, para outro onde não seja tão vilipendiado, tão incompreendido. Leia, leia e derreta uma lágrima. Eu próprio já lacrimijei.


Carta ao meu amigo Zé
Cerca de 300.000 pessoas, um pouco por todo o país, 
tudo a protestar contra o estado das coisas, contra 
a falta de oportunidades... Eles não entendem 
o que tu já tens feito pelo bem deles!

Artigo escrito por Alice Morgado

Zé, meu compincha que tão bem me entendes
e compreendes, 

Escrevo-te esta carta porque estou revoltada 
e quero protestar contra as injustiças deste povo 
em relação a ti e ao teu magnífico governo. 
Escrevo-te para manifestar a minha solidariedade 
para contigo, génio incompreendido, como, de resto, 
o são todas as grandes mentes. Tu, que procuras o 
bem do teu país, tu que lutas pelo desenvolvimento
tecnológico, pela educação, pela saúde, pela 
economia, pelo trabalho... E, apesar de todos 
os teus abnegados e heróicos esforços, 
ninguém te compreende! 

Cerca de 300.000 pessoas, um pouco por todo o país, 
tudo a protestar contra o estado das coisas, 
contra a falta de oportunidades... Eles não entendem 
o que tu já tens feito pelo bem deles! 

Tu, que levaste para a frente as Novas Oportunidades 
para que qualquer analfabeto possa aumentar a sua 
auto estima dizendo que tem o 9º ano sem ter 
que ir às aulas; 

Tu, que criaste programas de estágio para 
que os licenciados e mestres possam adiar uns 
meses o desespero do desemprego e, entretanto, 
serem explorados a baixo custo com imensas regalias
... para as empresas; 

Tu, que proporcionaste aos alunos a possibilidade
de transitarem de ano sem qualquer esforço, 
criando dificuldades aos malvados dos professores 
que os queiram reter caso não tenham tido
aproveitamento;
Tu, que deste a volta àquela insustentável segurança 
social que não dava lucros nenhuns, como era o 
seu objectivo, garantindo, agora, que todos possam 
ter reformas menores e menos protecção na doença 
e no desemprego; 

Tu, que cortaste os salários aos funcionários públicos, 
mas que tiveste a decência de salvaguardar os 
vencimentos dos administradores e dos teus 
amiguinhos;
Tu, que criaste mais dívida para que todos possamos 
sonhar com uma viagem de TGV, apesar de não 
termos dinheiro para os bilhetes e enquanto 
os trabalhadores da CP vêm as suas condições de trabalho 
a piorar; 

Tu, que poupas dinheiro e decides não fazer um metro 
em cidades insignificantes como Coimbra, que não te 
metes em despesas com transportes públicos, tu que 
ainda por cima só tens 20 motoristas por tua conta 
e uns poucos por conta dos teus amiguinhos; 

Tu, que organizas festas e viagens para mostrar o que 
de "melhor" por cá se faz, sem olhares a custos... 

Tu, que és tão bonzinho, que nos compreendes tão 
bem, que és tão solidário para com os jovens, para com 
os trabalhadores, para com os pensionistas... 
Ninguém te compreende... Pedes justificados e pertinentes
sacrifícios à população, discursas sobre o quanto 
nos entendes e lamentas o que passamos, pois não 
tens quaisquer responsabilidades sobre o estado das coisas!
A culpa é da Ângela, do Nicolau e dos outros meninos 
maus da Europa. Tu não tens culpa! 

Não tens culpa de te preocupares com as despesas 
excepto com as que dizem respeito a ti e aos teus 
amigos! 

Não tens culpa de quereres luxos na educação, 
saúde, tecnologia e transportes (de que importa se 
ainda nem o básico está assegurado?)! 

Não tens culpa de desconheceres o que é viver 
com um salário mínimo ou médio tendo comida, 
escola, gasolina, água, gás, luz, medicamentos, 
e outras despesas que tais, para pagar. 

Não tens culpa que os professores se sintam mais 
reclusos que educadores e fontes de conhecimento
por causa dum modelozinho de avaliação inofensivo.
Não tens culpa que os pais dos meninos não 
tenham dinheiro para lhes pagarem os estudos 
e os sustentarem quando eles não arranjam emprego. 

Enfim... Às vezes sinto que vivemos num mundo 
ao contrário... 

Eu, chamo-me Alice e vivo em Portugal, um país que 
não me dá oportunidades de crescimento, que 
desaproveita todo o investimento que eu, os meus pais 
e o estado fizeram no meu desenvolvimento pessoal
e académico. 

Tu és o Zé e vives no País das Maravilhas, um país 
em que tudo é como devia ser, graças a ti, mas as 
pessoas que o habitam são burras e não percebem 
o bem que lhes fazes. 

Não me alongarei muito mais nesta carta, pois já deves 
ter percebido que estou do teu lado e que te compreendo
totalmente! Sugiro-te que saias de Portugal... Por muito
que te custe abandonar a pátria pela qual tanto te tens
sacrificado, julgo que terás um futuro melhor, em que sejas
mais bem tratado, fora deste país cujo povo não te entende
nem dá valor ao que tens feito. Vai por exemplo para o 
Pólo Norte ou para a Gronelândia... Dizem que lá há 
muito espaço para construíres aeroportos, pontes, 
linhas de alta velocidade e auto-estradas! 

Um beijinho e desejos de boa viagem, 
Alice.

Comentários

Anónimo disse…
Adiós, dá de frosques mafarrico. SS

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