mimar os super-ricos, um imperativo nacional

Continuar a mimar os super-ricos
por Pedro Sales


Nestes últimos dias temos assistido a um espectáculo altamente pedagógico. Mal se começou a falar na possibilidade de um "imposto para os mais ricos" e logo começou o corrupio nos canais de notícias, editoriais e colunas de opinião para defender que nem pensar, onde é que já se viu tamanha aventura.

Os mesmos nomes que, quase sem excepção, defenderam a necessidade de aumentar os impostos sobre o trabalho e consumo em nome do sacrifício colectivo para equilibrar as contas públicas, avisam-nos agora dos riscos inerente à tributação dos mais ricos. Ele é o aumento da carga fiscal, que apenas serve para alimentar o monstro e o despesismo do Estado, ou uma forma fácil e demagógica de arrecadar receita. Enfim, o típico exemplo de um debate ideológico sem sentido.

Um deputado do CDS, que ainda há poucas semanas defendia o corte de metade do subsídio de natal aos afortunados que ganham mais de 485 euros, diz agora que “não me parece que se possa ultrapassar aquele limite de sacrifícios que se deve pedir aos portugueses”...a propósito do imposto sobre as heranças. Cavaco Silva, esse, desdobra-se na defesa de uma miríade de novos impostos para aumentar o ruído e garantir que, colocando todos a falar de coisas diferentes, não se chega a lado nenhum.

Nos canais de notícias o fenómeno é ainda mais visível. Os que não foram para a bancada do PSD já foram substituídos por iguais devotos, quase sempre fiscalistas ou ligados profissionalmente ao sector financeiro, que fazem o favor de explicar à turba como a tributação do capital pode ser prejudicial para todos - incluindo quem menos tem e teve que pagar o imposto extraordinário que isentou lucros e capital.

Enquanto, em nome do combate ao défice, se foi aumentando impostos sobre o trabalho, transportes, taxas moderadoras e afins tudo estava bem. Era difícil mas necessário. Até que chegou o dia em que alguém se lembrou de mudar o guião e falar nos rendimentos que têm estado ausentes do tal "esforço colectivo". Aí começaram as esquivas, as tácticas de diversão e os sucessivos problemas que uma medida destas originaria. Como ia dizendo, este debate tem sido mesmo muito pedagógico.

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