o governo coveiro


Por Alexandre Abreu

Se alguma dúvida ainda restasse, agora se dissipara: a ofensiva de classe deste governo não tem limites e arrastará para o fundo todas e quaisquer perspectivas de futuro da economia e sociedade portuguesas.

Para que fique mais uma vez bem claro, este Governo é culpado de duas opções criminosas: 1) procurar resolver o problema da dívida pública, num contexto de recessão internacional, através da contracção da despesa; e 2) fazer recair sobre os trabalhadores, classes populares e serviços públicos todos os custos do selvático “ajustamento” estrutural a que estamos a ser sujeitos.

Procurar resolver o problema da dívida através da contracção da despesa mais não faz do que somar recessão à recessão e desemprego ao desemprego. Até mesmo algumas vozes conservadoras mais esclarecidas já reconheceram que o problema da dívida só se resolve com crescimento económico – o mesmo crescimento que estas políticas impedem. Alguém consegue imaginar que uma economia em que 15% a 20% dos trabalhadores estarão em breve desempregados –precisamente em consequência destas políticas – conseguirá produzir a riqueza necessária ao cumprimento da sua dívida? Ainda alguém – mesmo entre os apaniguados dos partidos do poder e os fantoches que passam por seus intelectuais orgânicos – consegue seriamente acreditar que esta austeridade selvagem levará ao crescimento, à criação de emprego e à sustentabilidade da dívida?

O segundo crime pelo qual este Governo será julgado no futuro é o da destruição social que as suas opções distributivas estão a causar e irão aprofundar. Portugal tem dos mais elevados níveis de desigualdade de rendimento da Europa. Não, não estamos todos no mesmo barco. Não, não temos estado a viver acima das nossas possibilidades. Alguns têm estado a viver acima das possibilidades de outros – e o Governo toma a opção clara e cristalina de penalizar os segundos em detrimento dos primeiros. Penaliza os rendimentos do trabalho em favor do capital, aumenta os impostos indirectos que incidem desproporcionalmente sobre os mais pobres, aumenta o tempo de trabalho, destrói os serviços públicos que ainda vão assegurando o que resta de decência e coesão social no nosso país. É a luta de classes, pura e simples – e vai deixar um rasto de sangue e miséria. É bom que os membros do Governo saibam que nós sabemos de quem é a responsabilidade por esse sangue e essa miséria.

Não nos deixemos enganar: há alternativas à destruição da economia e da sociedade portuguesas. Amanhã estaremos na rua para juntar a nossa voz à dos muitos milhares que se recusam a aceitar esta destruição.

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