a corja, os pacóvios e os outros


Por Isabel G

Estou farta! É que já não se aguenta tanta estupidez, tanta mediocridade! Parece que a corja conseguiu finalmente embebedar-se ad eternum com o tão apreciado cocktail do poder. De sangue alcoolizado portanto, ei-la que fala e gesticula histericamente, nos olhos com aquele brilho endiabrado de quem quer meter no corpo dos outros os demónios que lhe habitam a alma. E os papalvos, demagogizados e embrutecidos, a quem a corja sempre faz acreditar que a ignorância e a passividade mental são virtudes que jamais se devem deixar de cultivar, ouvem-na extasiados enquanto uma lorpa admiração lhes ruboriza a face e um desejo calado e estupidamente nutrido de um dia virem a ser “assim importantes” lhes provoca um calafrio espinhela acima, espinhela abaixo. 

Com papas e bolos se enganam os tolos, e portanto é ver a corja com falinhas mansas e mentiras minuciosamente maquilhadas, com promessas cinicamente feitas que nascem e morrem no momento em são pronunciadas, com sorrisos de cordeiro e urdiduras sórdidas na mente, com festas e foguetes, com marchas e banquetes, por fora com aparente compaixão e por dentro com o desprezo surdo, muito a custo silenciado, de quem se julga ser humano de primeiro escolha.

A corja aprendeu, não a fazer política mas a persuadir, a enganar; a corja aprendeu a falar, não para comunicar melhor mas para tergiversar a mensagem; aprendeu linguagem gestual, linguagem corporal, não para melhor se fazer entender mas para mais facilmente ocultar o verdadeiro sentido das intenções; aprendeu a discursar, não para se assegurar que a transmissão chega íntegra ao receptor mas para manipular audiências; a corja cuida da imagem, não só para agradar, para seduzir, mas sobretudo para enganar, para ocultar o lobo sob uma pele do cordeiro.

Hipnotizados pelo carisma, (que é forjado), e pela capacidade de liderança, (que está única e exclusivamente direccionada para interesses próprios), e que a corja faz questão de demonstrar a toda a hora, os pacóvios, sem lhe perceberem a intenção oculta, e movidos por acessos de patriotismo, que também podiam ser de febre ou até de raiva e o significado seria igualmente oco e desinteressante, estimulados pela voz estrategicamente colocada do líder, acenam e gritam e anuem; e exclamam aos quatro ventos que unidos jamais serão vencidos enquanto, sem que se dêem conta, mansos e iludidos, são apascentados com a mesma facilidade com que o pastor conduz o seu rebanho.

E a corja grita: façamos sacrifícios e salvemos o país! E o pacóvio, incapaz que é de pensar, castrada que está a sua individualidade, de tão desorientada e confusa que está a sua mente, de tão cheios que tem, cabeça e coração, de esperanças vãs, de ideologias inconsistentes, de crenças ilógicas cuidadosa e subtilmente alimentadas pela corja, deixa-se ofuscar por um simples vislumbre de mudança, por um falso indício de melhoria, e aplaude e berra “apoiado” e segue a corja. Pobre pacóvio, estende-se ao comprido na cama de palha que lhe fizeram acreditando que em breve estará entre lençóis de linho repousando tranquilo nos braços de Morfeu!

Que se ofenda a corja pelo destrato que aqui lhes faço – corja de vilões, de depravados, desnutridos de princípios, humanos desnaturados, hipócritas malabaristas, manipuladores sem escrúpulos, secos de alma e coração.

E que se ofendam os papalvos com o retrato que lhes faço – simplórios ignorantes que nem à força de darem com a cabeça na parede uma e outra vez, e outra e mais outra e ainda outra, conseguem sair da lorpice e usar a massa encefálica que lhes foi provista de uma maneira menos básica, menos primitiva, menos estúpida.
Tem limites a credulidade. Tem limites a estupidez. Do mesmo modo têm limites o roubo, a corrupção, o ludíbrio; e também têm limites a sujeição, a dependência, o seguimento cego e a ignorância.

E não permitir que se excedam estes limites é a urgente e inadiável tarefa que cabe aos outros, aqueles que não são nem corja nem papalvos. Desenganem-se, porém, se pensam que são melhores que eles. Não são. São infinitamente piores. Piores porque têm consciência das coisas, porque sabem até à exaustão o que está mal e nada fazem para que a sociedade seja diferente. Estão imbuídos de um medo parvo, um medo que os faz caminhar enfileirados pelo mesmo trilho, de uma covardia que lhes cristaliza o pensamento, a palavra e a acção.Aquiescem para que os não incomodem, imitam para que se não lhes aponte o dedo, entram no jogo para que não os marginalizem, vivem num contínuo faz-de-conta para se sentirem seguros, para “serem como os outros”. Engrossam assim o egoísmo, alimentam a futilidade, mergulham em mil e uma coisas disparatadas, inúteis, e recusam-se a pensar, a falar, a agir individualmente.

Estou farta e não vou viver em ponto morto. Estou farta da corja e farta dos papalvos e estou até farta de ti, que não és nem corja nem pacóvio; és antes uma apatia amorfa, descaracterizada, um potencial em estado vegetativo, um ser descolorido com tantos matizes na mente quantos os medos que tens.

Estou farta...

Comentários

Obrigada, Quatro Almas! Vejo que partilham da minha opinião!
Ah, já me esquecia. Parabéns pela escolha fotográfica: o retrato não poderia ser mais fiel à ideia!
Unknown disse…
Partilho a sua opinião sim, e de que maneira! Infelizmente, acho que os ainda lúcidos estão à espera uns dos outros, a ver quem dá o próximo passo, e vamo-nos contentando em protestar pela net. Um abraço. Continuarei atento ao seu blogue e, se não achar que é abuso, continuarei a transcrevê-la... Manuel Cruz
Caro Manuel Cruz, transcreva-me sempre que achar conveniente! Não é de todo um abuso mas sim um enorme prazer!

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