da violência à traição


Por Ricardo Schiappa
http://esquerda-republicana.blogspot.com/

Primeiro Acto: Violência

«[...] Violência é um comportamento que causa intencionalmente dano ou intimidação moral a outra pessoa [...] Tal comportamento pode invadir a autonomia, integridade física ou psicológica e mesmo a vida de outro. É o uso excessivo de força, além do necessário ou esperado [...]» [1]

A violência começa com Passos Coelho e Vitor Gaspar, na sua declaração de pré-anúncio ao OE2012. Sob o olhar de Miguel Relvas, a trágica combinação entre um homem de mente simples e outro de mente inflexível deu o sinal de abertura para as hostilidades.

A princípio a violência é psicológica: é o anúncio da posição de força do governo, que vai levar ao esmagar da população. É o anúncio de impostos asfixiantes para um sector da população, e o da transformação do trabalho em escravatura para um outro sector. É anúncio da destruição económica e social do País e das suas conquistas recentes nesses domínios.

Mas, com o tempo, a violência torna-se material. As privações serão cada vez mais notadas, conforme se esgotam as últimas poupanças e os últimos recursos. A incapacidade de aceder, a princípio, a bens materiais de conforto, mas, logo de seguida, a bens materiais de primeira necessidade. A degradação acelerada da qualidade de vida.

Finalmente, a violência é física. Sob o peso do abuso psicológico continuado dos governantes, na falta de capacidade material de resposta para o dia-a-dia, mais cedo ou mais tarde chegam a fome ou a doença. Para as quais o Estado, agora reduzido a serviços mínimos, sem assistência ou saúde, não terá qualquer tipo de resposta. E para as quais também o cartão de crédito, porventura caducado, não terá qualquer capacidade de aceder a algum tipo de resposta no sector privado.

E porquê tudo isto? Em nome de uma ideologia ultrapassada que, já tendo dizimado milhões pelo mundo fora, chega agora Portugal? Aos avisos, de todos os quadrantes, do «uso excessivo de força, além do necessário ou esperado», apenas o silêncio. Mas a violência, a violência já chegou. Por enquanto, apenas da parte do governo, de Passos Coelho, de Gaspar, de Relvas. Pergunto-me: por quanto tempo a resposta a tudo isto será pacífica?

Segundo Acto: Traição

«[...] Traição [...] é o rompimento ou violação da presunção do contrato social [...] que produz conflitos morais e psicológicos entre os relacionamentos individuais, entre organizações ou entre indivíduos e organizações. Geralmente a traição [...] é uma ruptura completa da decisão anteriormente tomada ou das normas presumidas pelas outros [...] Na lei militar, traição é o crime de deslealdade de um cidadão à sua pátria [...]» [2]

Depois da violência, a traição. Protagonizada pelos mesmos rostos, Passos Coelho, Vitor Gaspar e Miguel Relvas. Os traidores. Aqueles que se fizeram eleger com base em narrativas falsas e com promessas que nunca planearam cumprir. Que rapidamente rasgaram o compromisso eleitoral em nome de desvios que nuncaexistiram. E que agora rasgam o compromisso social de cidadania, com a imposição de uma violência arbitrária. Que se preparam para rasgar liberdades, para colocar em risco a democracia e a república. E não falo apenas da implementação de um programa ideológico absolutamente criminoso para o futuro de Portugal. Falo de saberem exactamente o que estão a fazer e quais as suas consequências:

«[...] [O] Orçamento projecta [uma] taxa anual média de crescimento até 2050 de 1% [...] pelas contas do próprio governo [...] Quarenta anos de miséria. Quarenta anos de recuo. Quarenta de desemprego [...]» [3]

Estamos assim perante um governo que deixou de defender os interesses gerais de Portugal perante os seus parceiros Europeus e internacionais; pior!, que defende, junto das instituições europeias, ideias precisamente contrárias aos mais básicos interesses nacionais. Um governo, provavelmente único na História, que assume como objectivo o empobrecimento da Nação.

Ficará, sem dúvida, com um lugar negro na História. Mas, acima de tudo, mais do que uma traição ao seu próprio eleitorado, mais do que uma traição ao seu próprio País, o que Coelho, Relvas e Gaspar estão a levar a cabo é, pura e simplesmente, uma traição a todas as presentes e futuras gerações portuguesas. E a traição tem um preço.

Sabemos que a esmagadora maioria dos Portugueses não defende este caminho. O governo está isolado. Os problemas estruturais que Portugal tem por resolver, esquecidos por debaixo do tapete neo-liberal. A corda está a esticar. À violência que nos é imposta, podemos sempre tentar responder com protestos pacíficos. Por outro lado, convém recordar, a traição foi o último crime a deixar de ser punido com pena capital em Portugal, em 1976. Perante os avisos dos militares, até onde querem estes três tenebrosos personagens esticar a corda? Insitir em percorrer um caminho que não interessa a ninguém só pode acabar mal.

Adenda: Pode acabar mal, disse eu? Para o governo é já certo que vai mesmo acabar mal: "Risco de tumultos e barricadas. Governo já prepara plano B". Se mais nada, isto é mais uma admissão, da parte dos três traidores, Relvas, Coelho e Gaspar, do seu próprio falhanço.

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