a culpa é do sócrates

Para derrubar Sócrates e abocanhar o poder, toda a gente sabe que Passos Coelho recorreu à mais descarada mentira. E ao ataque constante a Sócrates, com a acusação de que a penúria nacional, o descalabro das finanças, se devia a ele e só a ele, nada tinha a ver com circunstâncias internacionais, com a gula dos mercados, com o desregulamento das instituições financeiras, com o neoliberalismo reinante, com o capitalismo na sua pior faceta. Não. Nada disso. A culpa era todinha do Sócrates, gastador e, se não o diziam directamente arranjavam alguém que fizesse o trabalho de sapa por eles, corrupto.

Agora, Sócrates continua a ser culpado da situação do país e dos sacrifícios pedidos (que lindo eufemismo!) aos portugueses. Por tudo e por nada, eis que se invoca o seu nome. Destrói-se a saúde? Não há dinheiro, a culpa é do Sócrates. Roubam-se as reformas? Não há dinheiro, a culpa é do Sócrates. Fragiliza-se o Estado Social, privatiza-se por tuta-e-meia, despede-se mais depressa e mais barato? Não há dinheiro, a culpa é do Sócrates.

Ah! O governo está a fazer tudo por tudo para repor o que Sócrates destruiu. Mas tudo depende das circunstâncias internacionais. O que não era válido há um ano, a crise internacional, é agora invocada a torto e a direito para desculpar o governo caso ele falhe. E vai falhar, claro. E arrastar-nos consigo para o esgoto onde, cada vez mais, se atola.

Não sou defensor de Sócrates, nem agora nem nunca. Mas, quando se escrever a História destes anos, ela não vai ser bonita de se ler. E a culpa não será do Sócrates. Os esquemas sórdidos pela conquista do poder e o orgulhoso empobrecimento dos portugueses não foram obra de Sócrates.

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