a verdade de relvas é como tudo na vida, vai mudando


Por Daniel Oliveira

No princípio, Miguel Relvas quase não conhecia Silva Carvalho. Depois, afinal, já se tinha cruzado com ele em lugares públicos um número razoável de vezes mas apenas debatiam assuntos de atualidade e de política internacional. Lamento que não tivessem sido ainda mais públicas, porque adivinho debates interessantíssimos sobre o futuro do planeta. Por fim, soubemos ontem, pela sua boca, porque Relvas sabia que a notícia iria sair na "Visão", que teve reuniões empresariais com ele onde, supomos, não se dedicaram discutir a situação no Médio Oriente. Argumento: se havia nove num encontro isso não conta. A não ser, claro, quando se fala de festas de aniversário com 70 pessoas, porque isso prova que Relvas só estava com o senhor quando, azar dos azares, tropeçava nele em festas e hotéis.

Reuniões de negócios não são fortuitas. A sede da Ongoing não é um evento social. E lá não se discute actualidade e política internacional. Ou seja, Relvas mentiu. Relvas disse que o sms que recebeu de Siva Carvalho não tinha nomes de agentes e não correspondia a segredos de Estado. Afinal recebeu, por sms, o nome de dois agentes a promover. Ou seja, Relvas mentiu. E fico-me pelas poucas perguntas a que Miguel Relvas resolveu responder na comissão parlamentar de ontem.

Não é pecado conhecer gente pouco recomendável. O próprio Jorge Silva Carvalho já me escreveu impressivo email - protestando com o meu último artigo sobre a sua pessoa -, cujo o conteúdo não revelarei (nada de especial tem para revelar, apesar de não tratar de assuntos de atualidade e política internacional), porque não tenho os hábitos de que este senhor é acusado e respeito a privacidade da correspondência. O problema é a mentira. É problema por duas razões. A primeira, é um facto: Relvas mentiu a uma comissão de inquérito e isso não se recomenda. A segunda é uma dúvida: porque mentiu, sucessivamente, sobre a sua verdadeira relação com Silva Carvalho? E porque razão devemos acreditar que está agora a dizer a verdade?

Miguel Relvas usou, como é costume em algum género de pessoas, o seu cordeiro para sacrifício, demitindo o seu adjunto que, acredita quem quiser, manteve contactos com Silva Carvalho sem que o seu ministro o soubesse. Mas não me parece que isso chegue para desistirmos de perceber a intensidade da sua relação com alguém que se dedicava a espiolhar a vida dos outros.

No porreirismo nacional, muitos pensarão que este é um assunto menor. Mentir, mesmo com o à vontade com que o faz, fingindo que sempre disse o que de novo nos informa, já nem é grave quando se trata de um responsável político. Acontece que ou Miguel Relvas é um mitómano, e mente sem qualquer necessidade de o fazer, ou a sua ligação a Silva Carvalho é bem mais profunda do que ele quer que nós acreditemos. E se é, tendo em conta o lugar político que Relvas ocupa e os casos em que Silva Carvalho está envolvidos, temos direito a sabê-lo. Precisamos de saber se essa relação vai até ao ponto a estar a par das informações que este ia recolhendo.

Ontem, Pedro Passos Coelho empenhou a sua credibilidade nas palavras, sempre em evolução, de Miguel Relvas. Anota-se. Para mais tarde recordar.

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