como quem marca gado


PPC, que não é nenhuma marca de pneus, porcas ou adubo, antes fosse, mostrou-se ontem embevecido com os portugueses, a quem agradece a paciência. 

Não me inclua no grupo, oh doutor! A paciência já se me foi há muito, generosidade para com as gentes da sua laia nunca a tive, a indignação e, não tenhamos medo das palavras, a raiva crescem-me a cada dia que passa.

Não que eu ache que o País, com Sócrates, ou Santana Lopes, ou Durão Barroso, ou Guterres, ou Cavaco Silva, fosse sustentável. Que não fossem precisas medidas austeras de contenção de despesa. Ai eram, pois eram. A corrupção alastrava como um cancro imenso, muitas empresas viviam à conta do Estado, os salários e demais alcavalas dos gestores públicos eram escandalosos, as mordomias dos políticos eram impossíveis de suportar por muito mais tempo, as obras de fachada sucediam-se por todo o País para engordar construtoras e gentes das autarquias, muitos andaram a viver acima das suas possibilidades, com mansões nas Quintas do Lago ou da Marinha, Ferraris e Porsches a dar com um pau, férias em paraísos turísticos e dinheiro em paraísos fiscais.

Por outro lado, o povo português, apesar de sucessivas promessas eleitorais de prosperidade, continuava na cauda da Europa. Era dos que ganhavam menores salários. Dos que tinham pior qualidade de vida, apesar das enxurradas de dinheiro que nos vinham da UE.

Que fez o doutor, sabendo que contaria com a paciência dos portugueses? Acabou com a mama do Estado e de quem vivia à conta do Estado? Favoreceu quem, honradamente, vivia do seu trabalho, nem sempre reconhecido, nem sempre pago com justiça e decência? Não. O que o doutor fez foi deixar intacto o imenso polvo voraz da corrupção e clientelismo (algumas acções isoladas, aqui e ali, são meras operações de cosmética que não enganam ninguém, as plásticas têm-lhe corrido mal), e, ao contrário, persegue quem vive do seu trabalho com a sanha não de um coelho, mas de um lobo esfaimado. Não lhe tem escapado nada. Facilidade de despedimentos (para criar emprego, diz, e está-se mesmo a ver que assim tem sido). Salários cada vez mais baixos. Ofertas de emprego, quando as há, com exigências de qualificações elevadíssimas em troca de 500 ou 600 euros por mês. Saúde pior e mais cara. Educação pior e mais cara. Impostos que tem mandado subir com a fúria de um tresloucado, das taxas municipais ao IVA nada tem escapado às suas malhas, insaciavelmente gulosas. Nunca pagámos tanto por uma sandes, pela electricidade, pelo gás. Corta feriados, reduz dias de férias, suprime - sabe-se lá até quando - os subsídios de Natal e de férias, e o rol de malfeitorias não acaba aqui mas, confesso, a prosa vai larga e a minha paciência, já lho disse, é pouca ou nenhuma. Esgotou-se ainda o doutor andava pela juventude do seu partido a sonhar com altos voos que, orgulhosamente, atingiu.

Mas os portugueses, uma maioria silenciosa e temente, se não a Deus pelo menos ao doutor e às suas ameaças constantes de "ou eu ou o apocalipse", têm mostrado, é um facto, uma imensa paciência, uma bovina paciência, que me faz lembrar a dos maridos enganados que se mantêm pachorrentamente mansos perante o pecadilho conjugal. É que, mal comparado, o doutor fez-nos a mesma coisa: encornou-nos. Prometeu uma coisa e fez outra. Anunciou servir-nos e serve outros. Jurou-nos fidelidade e anda a correr para os braços de gente mais anafada, se não de corpo pelo menos na carteira. Que lhe faça bom proveito, gostos não se discutem, mas não esteja à espera de paciência, nem de simpatia. Muito menos de votos. Cá se fazem, cá se pagam. Até um boi manso, ao ser marcado a ferro e fogo, escoiceia. Espere para ver.

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