esta tarde, na locanda das regateiras


Por puro masoquismo, acho eu, estive a assistir a um bocado do debate de hoje na Assembleia da República. Nada de novo. A direita, a tal que acusava o PCP de meter a cassete e cá vai disto, repete até à saciedade os mesmos argumentos. Um, o de culpabilizar o PS por ter sido este partido a pedir o resgate e ter conduzido o país à quase bancarrota. Outro, o de acusar a oposição, toda ela, de não apresentar alternativas. Duas monstruosas mentiras, como tantas afinal vindas dali daquele recanto, mais ou menos poluído, da locanda das regateiras.

Vejamos:

* a oposição tem apresentado dezenas de alternativas, quer através dos partidos quer dos sindicatos e da sociedade civil; o governo não está é interessado em acolhê-las e em mudar de rumo porque isso representaria o fim de um plano, que há muito vinha sendo urdido, de empobrecer os portugueses, fragilizá-los, transformá-los no alvo ideal dos predadores do trabalho de cada um.

* o PS, verdade seja dita e honra lhe seja feita, resistiu até ao último minuto a pedir um resgate, tendo sido o próprio Passos Coelho ("sinto-me muito confortável em governar com a troika", dizia ele muito antes da queda de Sócrates e das eleições) a precipitar o pedido de "ajuda" externa. Claro que o que ele queria, ao mesmo tempo, era o derrube do governo PS. E conseguiu os seus intentos.

* o PS não é o único culpado pela situação a que chegámos. É um dos culpados. O PSD e o CDS não têm menores responsabilidades. Olha os submarinos! Olha o BPN! Olha a Tecnoforma! Olha as PPP's e outros negócios ruinosos feitos durante as governações PSD/CDS! Olha as frotas automóveis, os salários, as benesses de que não querem abdicar!

Pedro Passos Coelho tem sorte, os portugueses é que têm azar, muito. Sorte por ter surgido a crise económica americana em 2008. Sorte por ter como aliada a senhora Merkel que quer fazer, pela economia, o que Hitler não conseguiu pela força das armas. Sorte por ter Durão Barroso, essa magnânime inutilidade, à frente da Comissão Europeia. Sorte por ter Cavaco Silva como presidente desta atormentada República. Os astros, até agora, estiveram todos a seu favor e, por isso, está quase a conseguir destruir o país em prol da entidade anónima, mas poderosíssima, que constitui os seus verdadeiros e únicos patrões: os "mercados", o grande capital interessado no saque de Portugal e na ruína dos portugueses, como de outros povos do Sul da Europa.

O que se está a passar por Portugal, pela Grécia, por Espanha e por Itália, ninguém me tira isto de cabeça, faz parte de um plano há muito delineado e onde Passos não passa de um mero empregadote de terceira categoria, um pau-mandado. Nós, todos nós, seja qual for a nossa simpatia política, não podemos permitir o recuo civilizacional, e irracional, que nos querem impor. Socialismo, comunismo, democracia-cristã, social-democracia, todas estas correntes, por muito que se antagonizem, têm que estar unidas, nem que seja uma vez na história, no combate à destruição neoliberal, pró-fascista, de todos os seus feitos de décadas, entre eles o Estado Social.

A Europa (como grande parte do mundo, aliás) está assente num barril de pólvora. Que ninguém acenda o rastilho.

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