and now for something completely different

Por Nuno Ramos de Almeida
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Quem assiste à telenovela mexicana que sucede no PS, pode ficar interessado no desempenho dos actores, nas suas palavras assertivas, nos actos grandiloquentes, no foguetório e no barulho das luzes, dificilmente perceberá o que divide os putativos concorrentes.

“Unir o partido”, “motivar os portugueses”, “ser o melhor candidato” são tudo fórmulas de oratória ao nível da discussão em programa televisivo dominical sobre futebol. São uma espécie de arrufos de sentimento falso numa política que perdeu conteúdo e sentido.

A transformação da política em mera administração das coisas, tal como a troika as quer, esvaziou a democracia e tornou o Partido Socialista uma espécie de co-gestor fofinho dos interesses que mandam. PSD e PS governam por turno, com a mesma pauta governamental, sendo que os socialistas portugueses alimentam os negócios dos banqueiros deitando uma lágrima pelos pobrezinhos, e os governos de direita acham que os pobrezinhos serem chicoteados faz parte do tratamento cujo objectivo virtuoso é enriquecer os banqueiros. A diferença do ritmo das chibatadas é importante mas o resultado é parecido.

O filósofo francês Rancière divide aquilo que entendemos por política em dois processos distintos: “polícia” e “política”. O primeiro, significa que há uma mera administração daquilo que existe. O segundo, só sucede quando os “sem parte” tomam a palavra, no pressuposto da igualdade, e conseguem pela sua acção disruptiva mais igualdade.

Precisamos hoje de menos “polícia” e mais “política”. É urgente dar a voz às pessoas para que elas decidam da sua vida. Mais democracia e mais igualdade são as soluções para a crise. O capital financeiro e o seu poder costuma privatizar os lucros e nacionalizar os seus prejuízos, obrigando que todo o mundo garanta os seus dividendos. Aquilo que é necessário é uma sociedade que altere radicalmente a sua polaridade A prioridade tem de ser a vida de todos.

Não está em causa a inegável inteligência de António Costa, mas era preciso que tivesse tido o discernimento de nos propor políticas diferentes, e não a dose do costume disfarçada com outros temperos.

Infelizmente, tudo nos diz que não quer fazer diferente. Esta semana, a Câmara Municipal de Lisboa, que dirige, ocupou o seu tempo a fechar e a multar as associações culturais de Lisboa. A Polícia Municipal entrou no MOB, na Zé dos Bois e outras associações da cidade. O pecado delas era serem locais de promoção cultural, abertos depois da meia-noite, e que davam espaço a artistas e movimentos que não cabem na corte dos paços do concelho. A câmara em vez de apoiar aqueles que promovem a cultura, multa-os. A política municipal tornou-se o braço armado dos donos da noite contra as associações. Nos partidos do centrão há a mesma lógica de aumentar impostos, taxas e destruir aquilo que é propriedade social, comum a todos, para dar espaço e dinheiro aos interesses privados.

Se António Costa queria ser diferente, teria de ter agido, também aqui, de uma outra maneira.

Imagem: http://wehavekaosinthegarden.blogspot.pt/

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